Depõem na mesa do Santo Ofício destas cidades de Lisboa Ocidental e Oriental os padres Victorino Joseph presbítero de hábito de São Pedro assistente e morador nas casas de [Hieronimo] Leite de Vasconcelos Pacheco, por detrás da Igreja de Santo Antonio da Freguesia da cidade oriental e Manoel Pereira Peixoto do habito de São Pedro beneficiado na Igreja
Aos vinte e tres dias deste presente ano de mil setecentos e trinta e quatro nos achamos no taboleiro das escadas da dita Sé oriental, rogados por Pedro de Sá Enqueredor e procurador do fisco e por Francisco Pereira da Silva, assistente e morador de trás da Igreja de Santo Antonio nas casas de [Hieronimo] Leite de Vasconcelos Pacheco e por Balthazar Rodrigues Lima Familiar do Santo Oficio, assistente e morador na rua dos conegos observamos e examinamos a um homem que havia muitas noites sempre aquela hora se sentava nas escadas do adro da mesma sé oriental e tirado o chapeu, punha os olhos por muito espaço fitos segundo a eles lhes parecia na lua e que quando esta faltava em uma formoza estrela e reparavam nao pestanejar e fazer diversas ações, principalmente algumas de adoração como bater nos peitos e por o joelho em terra que nos tanot que chegamos e parte observamos eu o Padre Victorino Joseph, vendo-o na dita postura e bater nos peitos [...] com umas umas contas brancas na mao direita, pés descalços, um saco da parte esquerda [...] era traje de homem [...] tomando ocasiao de ele estar com os olhos fitos no ceu lhe ofereci tabanco sentando-me ao pe dele falando da força das calmas e que ele como tao dado a observação dos astros poderia muito bem dizer se mitigariam os ardores do tempo que eu também era curioso, q [desejava] comunicar com ele para efeito de um prognostico que compunham que ele respondeu não ser "mathematico" nem disso saber coisa alguma ao que eu repliquei pois que adoracoes eram aquelas que fazia para a lua e estrelas conforme entendiamos e tanto tempo se tinha observado ao que ele respondeu que nao era o que cuidava e q somente o diria quando se confesasse o que eu insitei dizendo que ainda que eu estavade capote, que era sacerdote, que assim poderia comigo desabafar e referirme o que passava que se era ato bom, que o devia dizer ou para minha edificação ou minitação que reparavam todos no seu ajoelhar e bater nos peitos que aquela parte ao que respondeu que se confesasse o diria e neste tempo chegou o dito Francisco Pereira da Silva e moveu a mesma pratica e vendo-se o tal homem apertado disse que parecia mal a alguem o que fazia que o acuzassem ao Santo Oficio que ele ja la fora por sua vontade e não preso e continuando o dito Francisco Pereira da Silva em o inquirir confessou chamar-se Manoel Antonio, ser natural de junto ao valongo e distante do porto três léguas estar nesta cidade haveria vinte anos que era homem de [gantiar] e que morava no Arco de D. Thereza reguesia da Magdalena o que tudo ouvi e grande parte de meus amigos que pouco a pouco se foram chegando e eu o Padre Manoel Pereira Peixoto vendo a repugnancia que o tal homem fazia a dizer o que lhe inquiria o movi com razoes oferecendo-lhe guardar segredo natural no que ele veio e retirados, ficando à vista confessou que ele jejuara toda a quaresma passado exceto um dia e que nela tomara algumas vozes disciplina e que certa ocazião estando em sua casa lhe aparecera o demonio e tocando com as mãos nas partes pudentas lhe dissera que pegasse nelas e ele então chamara por Nossa Senhora que logo lhe aparecera e lhe falara consolando-o muito, e que em outra ocasião lhe aparecera e lhe dura umas veronicas das quais perdera algumas e conservava uma cozida consigo e que passando o santissimo sacramento a um enfermo achara ele que se lhe descozera a parte donde a trazia cozida que todos os dias ouvia seis missas antes do trabalho e que estando ouvindo a missa na Igreja da Misericordia lhe aparecera a mesma Virgem Senhora nossa e lhe punha a mão em diversas partes do seu corpo dele e segundo dava a entender com suas ações dizendo: aqui, aqui e aqui era no ventre, no peito e na boca e que tambem lhe aparecera Nosso Senhor com uma cruz às costas vestido com uma tunica roxa do tamanho como ele dava a entender pela ação que fazia pondo a mão direita sobre o pulso da esquerda de um palmo e que lhe punha nas mesmas partes e que na missa quando a ouvia sempreo via e que todos os dias falava com nosso senhor e com seu filho nosso senhor Jesus Cristo e que de ambos era favorecido e que o olhar com os olhos fitos para aquela parte bater nos peitos era porque saindo da Igreja à noite via cinco cruzes no céu, e para a parte donde ele mais se inclinava via uns resplendores muito grandes e dentro dele a nosso Senhor e com ele falava e tambem na missa do mesmo Senhor e a Senhora
ANTT, IL, proc. 15518, Denúncia contra Manuel Antonio.
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