domingo, 9 de junho de 2013

Conceito de Feitiçaria

"continuidade de palavras não significa necessariamente continuidade de significados." GINZBURG, Carlo. Olhos de Madeira. p. 42.

"querem alguns que haja maior número de feiticeiras que de feiticeiros, ou porque as mulheres mais facilmente se deixam enganar pelo Demônio, ou porque, como são naturalmente mais vingativas e invejosas que os homens, com mais curiosa malícia estudam o modo de satisfazer essas paixões" 

"O que seguem essa opinião" segundo o autor, advém do uso de "feiticeira" no feminino nos próprios textos sagrados dando a entender que este "vício" é mais comum entre as mulheres. p. 63

"a feiticeira não deixarás viver" êxodo 22:18

“uma curandeira era apenas uma mulher que sabia mais do que as outras pessoas e não significava que empregava necessariamente remédios sobrenaturais” (THOMAS, 1991, p.. 167).

"A bruxa “boa” que ajudava um cliente a triunfar sobre um oponente na lei ou no amor, ou que o curava transferindo a sua doença para outra pessoa podia muito bem ser vista como “má” pelo lado prejudicado. Falando de maneira geral, acreditava-se que os curandeiros e as bruxas malévolas fossem duas espécies separadas. De vez em quando, porém, elas sobrepunham-se uma à outra" (THOMAS, 1991, p. 356).

“a noção corrente de objetividade histórica foi invertida. Que importa se a feiticeira medieval lançou ou recebeu sortilégios, se ela se casou ou não com o Diabo, se ela cometeu uma impostura ou recebeu um dom! Importa que ela acreditava em sua potência mágica e maldita, e que todo um povo acreditou com ela, e precisava acreditar. Tal é o fato histórico da feitiçaria.” VIALLANEIX, Paul. Prefácio a MICHELET, Jules. La Sorcière. Paris: Garnier-Flammarion, 1996, p. 21.

Os portugueses que cruzaram o Atlântico trouxeram consigo não apenas um projeto mercantil de exploração da América, mas também um imaginário de medos, crenças, feiticeiras, fantasmas e outros elementos sobrenaturais. Na Europa .Ao elaborar os limites da heresia e da ortodoxia a Igreja Católica passou a perseguir elementos pagãos e pré-cristãos.  As práticas mágicas incluindo a cura, benzeduras, adivinhações,  sortilégios e malefícios se tornaram elementos de uma perseguição sistemática qu fornecia um estereótipo social para a perseguição. Da mesma forma rituais e práticas africanas e ameríndias seriam demonizadas, julgadas e punidas 

Como podemos perceber a categoria "feiticeiro" e a fronteira desta com as demais práticas mágicas como: curandeiros, curadores, benzedores, adivinhos está longe de ser homogênea ou definida. Ao mudarmos a forma de reconstruirmos nosso objeto, podemos perceber que estes mágicos tiveram diferentes papéis para as elites, para o Bispado, para o Santo Ofício e para a população em geral. 

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