quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sobrenatural nas Minas

A descoberta do ouro em meados da década de 1690, na região que viria a forma a capitania das Minas do Ouro, mais precisamente nos arredores da futura Vila de Ribeirão do Carmo, atraiu imensa massa de aventureiros, ávidos pelo vil metal, ensejando, assim, o surgimentos de diversos povoados pelas alterosas. O território, outrora povoado por tribos indígenas e percorrido por bandeirantes, tornou-se, em pouco tempo, habitado por uma população diversificada proveniente da metrópole, de portugueses insulares, do decadente nordeste açucareiro ou negros arrancados das mais diversas partes do continente africano. Esse povoamento foi acompanhado por membros do clero, quase sempre empenhados na doutrinação religiosa e no banimento das ortodoxias religiosas e emissários da coroa, encarregados de zelar pelos interesses régios.

Juntamente com essa população heterogênea, transplantaram-se para as minas: medos, forças sobrenaturais, assombrações e práticas mágicas que marcariam profundamente a vida  desses colonos que, isolados pelas contingências topográficas e  dos mais antigos centros de ocupação da Colônia teriam um cotidiano marcado, muitas vezes, por privações e dificuldades. Estes aspectos heterodoxos, por sua vez, manifestam-se com maior eficácia, à medida que as barreiras impostas pelas autoridades tornam-se mais permeáveis.

Os feiticeiros, curandeiros e benzedores transitavam livremente pelas ruas e praças das vilas mineiras mais importantes. Interagiam com comerciantes e ricos mineradores portugueses, auxiliando, muitas vezes, a saúde da família ou a proteção de seus negócios; com ourives, responsáveis pela confecção das jóias e objetos feitos à partir da matéria prima das minas, favorecendo sua fortuna; com pequenos agricultores e artesãos, moradores da região, que comercializavam nas vilas parte de sua produção e encontravam-se, muitas vezes, sem o auxílio de cirurgiões e boticários; com tropeiros e caixeiros viajantes, curando suas mulas, que transportavam a riqueza da região e abasteciam os arraiais auríferos; com militares, responsáveis pela ordem fiscal da capitania, benzendo suas montarias, intermediavam conflitos entre vendeiros e vendeiras de secos e molhados, de escravos e escravas de ganho, de negras de tabuleiro e quitandeiras com seus miúdos trazidos às contas, de livres e libertos que encomendavam malefícios ou buscavam em curandeiros, adivinhos e benzedores a cura para seus males inexplicáveis. Até mesmo representantes do Santo Ofício foram assessorados por práticas mágicas no território das Minas.

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