Nas vendas e tavernas à noite, em meio a chamas bruxuleantes, tornavam-se públicos os medos dos colonos. Feiticeiras que produziam filtros de amor e malefícios à partir de crianças mortas, pactos demoníacos em encruzilhadas, fantasmas e aparições que assombravam minas e construções abandonadas, mortes
Para os portugueses envolvidos na faina ultramarina, a crença no milagre foi de extrema importância. Como já se viu no primeiro capítulo, os marinheiros portugueses, às voltas com os diversos perigos que os ameaçavam no mar, não hesitavam em presentear os santos com várias tábuas votivas e outras oferendas, em troca de uma travessia segura. p. 119. ABREU, Jean Luiz Neves.
Pessoas doentes ou correndo risco de vida, colonos clamavam pela ajuda divina recorrendo geralmente a um Santo específico. Uma vez curados, o crente levava à público o conhecimento da graça recebida pintando uma Tábua Votiva. Estes objetos, pintados geralmente em madeira, apareceram em Portugal durante o século XVI e estiveram presentes nas Minas por todo o século XVIII. Podemos considerá-las testemunhas materiais do sobrenatural na sociedade setecentista mineira.
A Igreja Tridentina procurava monopolizar o controle sobre o sobrenatural cristão, atribuindo significados morais aos milagres. Eclesiásticos, através de visitações ou cartas pastorais procuravam lembrar que Deus não operava obras milagrosas impunemente. Era necessário que o fiel tivesse comportamento adequado às normas cristãs e afastado de práticas heterodoxas. Além disso, aqueles que curavam com orações, benzimentos, rezas e palavras santas, eram perseguidos e duramente punidos por familiares do Santo Ofício e pelos visitadores do Bispado.
Embora procurasse conter os excessos, a própria Igreja
incentivava os fiéis a rogar pela intervenção dos santos nos momentos difíceis. No Brasil
do século XVIII, o padre Ângelo de Sequeira sugeria a invocação de intermediários
específicos para a cura de determinadas doenças. Para o alívio da dor de dente ensinava a
seguinte oração:
"Deus eterno, por cujo amor Santa Apolônia sofreu, que lhe tirassem os
dentes com tanto rigor e fosse queimada com chamas, concedei-me a
graça do celeste refrigério contra o incêndio dos vícios, e dai-me socorro
saudável contra a dor dos dentes por sua intercessão. Amém, Jesus" SEQUEIRA, Ângelo da. Botica preciosa e o tesouro precioso da Lapa. Lisboa: Oficina de Miguel
Rodrigues, 1754 Apud: RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século
XVIII, p. 96
Relativizar com o texto do José Pedro paiva salvo
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