quarta-feira, 12 de junho de 2013

Calundus e ensinou outros negros identificando feiticeiros

  • 1772: Francisco, preto, de nação benguela, escravo de Ana Maria de Santa Rosa, morador na freguesia desta cidade de Mariana, Arraial de São Sebastião, MG40

Descrição: "A minha presença veio um preto por nome Francisco e por ele me foi dito que como verdadeiro católico e filho da Santa Madre Igreja se vinha denunciar que achando-se uma ocasião no Arraial de São Sebastião, termo desta cidade, e tendo notícia que vários negros e negras estavam fazendo batuques em uma paragem fora do arraial, e por sua curiosidade foi ver as tais danças e viu que o autor das danças era o negro Felix, Cabo Verde,  e que entrou a fazer calundus por arte diabólica fazendo perder os sentidos a uma negra, Maria Angola, escrava de uma mulata, a qual caiu como morta e o tal Felix  falava que as almas da Costa da Guiné eram as  que falavam dentro daquela criatura e chegando a ele o tal Felix perguntou a ele denunciante se tinha alguma moléstia no seu corpo ao que lhe respondeu que sentia umas picadas e lhe disse que aquelas picadas lhas faziam as almas da Costa, e que tornasse lá outro dia para o curar, e com efeito foi e achou as mesmas danças de calandus e Felix foi buscar umas ervas e com elas fez umas esfregações no corpo dele e lhe fez perder os sentidos e a vista dos olhos e ouvir dentro do espaço de meia hora e que se não lembra o que fez neste tempo com a tal diabrura porém nunca mais se quis achar o tal ato e se retirou abominando aquelas cousas das quais  tem se arrependido...". Que Felix, por causa desses calandus, já foi preso pelo Capitão de Ordenança e que o mandou para a conquista do gentio por ordem do Governador das Minas "e que ele ensinou aos outros várias adivinhações".
  ANTT, Caderno do Promotor, 129, fl. 143.

  • 1758: Francisco, nação angola, escravo de Manoel Bernardes de Cristo, morador na Vila de São João Del Rei, MG39

"Francisco cura feitiços dando remédios pela boca e vomitam imundícies; com alguidar com água adivinha os feiticeiros. Em um quarto retirado" "tirou da algibeira uma caixinha redonda e abrindo-a, a pusera no chão e num papel escrito como em grego, uma pedrinha começou a bulir "a andar em redor" conversando com a pedrinha, (que era do tamanho e jeito de uma unha) que respondia com sinais de sim e não. Disse que um doente ia lançar fora os feitiços naquela noite e começou "a untar-lhe a garganta com ungüento que trazia de uma caixinha e tirou uma bolsa encarnada que trazia no pescoço e colocava no pescoço do homem mas primeiro a borrifou com aguardente de cana, tirou outra caixinha redonda e começou a fazer várias cruzes sobre a cabeça do homem e a esfregar-lhe muito o pescoço e garganta por três horas sempre abrindo a caixinha, falando em Deus e vários santos como exorcismo e meteu a mão na boca e com os dedos pela garganta abaixo, tirou um novelo de lã de ovelhas de toda qualidade, unhas e bicos de pássaros e depois de quinze dias estava são. Várias testemunhas assinaram este sumário, dizendo que vinham negros e negras pedir que os protegesse de feitiços "e a cura era fazer-lhes quatro feridas, duas nos braços e duas nas pernas e destas lhes tirava o sangue e antes que os ferisse, lhes dava uma bebida que ficavam atordoados  a modo de bêbados, em muitos vi sair destes com as quatro ligaduras nos braços e pernas ensangüentados  e caindo como bêbados.
ANTT, Caderno do Promotor, 121, fl. 213.

  • 1782: Roque, angola, negro/ BRÍGIDA, casada, Itapecerica, Vila de Nossa Senhora Piedade de Pitangui, 

"O denunciado é feiticeiro, pois cozinha num grande tacho certas ervas junto com uma imagem de Cristo de latão que trás no pescoço e nesta água se lavavam e após vestirem a melhor roupa principiavam umas danças ou calundus mandando mãe Brígida a seu filho João tocar uma viola, e o tal negro tocava um adufe (pandeiro) e dançavam com muitos trejeitos e mudanças e davam a cheirar a todos os circunstantes certo ingrediente que tinham em uma folha de flandres e que depois de cheirar, diziam que ficavam absortos e fora de si e ensinava Brígida que as almas dos mortos se introduziam nos vivos que cá ficavam e que a alma de sua filha morta se introduzira no corpo de Roque,  por este motivo que amava a Roque e lhe dava de mamar aos seus peitos e o deitava consigo na mesma cama em que dormia com seu marido ficando ela no meio" e ao reclamar o seu pai , Brígida dizia que se Roque não deitasse em seu peito haveriam de padecer grandes dores. E que o negro mandava sua mãe banhar-se nua num córrego na frente da filha dele, Jerônima, de treze anos e Romana, filha dela; que Brígida certa vez passara a mão no corpo de um recém-nascido meio morto e ele logo renascera. Que levava o Cristo e o Santo Antônio ao mato para fazer penitências" e acompanhando-os certa vez o marido "lhe deram muita pancada"; disse que o "calundu era o melhor modo de dar graças a Deus" e que Brígida dizia ser o "anjo angélico e que tinha poder do Sumo Pontífice para casar e descasar". E "estando nesses calundus ou danças apartava de seus maridos algumas filhas suas que com a mesma moravam dizendo que era da vontade de Deus e para os calundus convidava a todas pessoas que com Brígida moravam na fazenda e se alguma pessoa disto se escusava, lhe dava a cheirar e lhe chegava aos narizes uma erva com a qual ficavam absortos e fora de si e esquecidos das obrigações de católicos e entravam na mesma dança".
ANTT, Caderno do Promotor, 130.
  • 1781: Antonio Angola, preto, Lavras, MG37

"Na Freguesia de Campanha há um preto angola, Antônio, que cura feitiços, adivinha por espelho que trás consigo e trás também uma cruz"; se apresenta como "Antônio Calundu" e adivinhou onde estava uma espingarda roubada, e estava assim concorrendo gente bastante para consultar o tal adivinhador e curador".
ANTT, Caderno do Promotor, 130, fl. 369.
  • 1777: Gonçalo, angola, forro, do Arraial de São Sebastião, Nossa Senhora do Sumidouro, MG36

Foi denunciado que "aplicou numa menina banhos e bebidas de água benta com pós contra feitiços e logo a doente começou a deitar pela boca e por baixo vários pregos, chaves e fechos de espingarda e outras coisas de estanho, cobre e vários metais, ficando livre da moléstia, fazendo cerimônias uma concha cheia d'água, com pós para adivinhar quem lhe botara o feitiço".
ANTT, Caderno do Promotor, 129, fl.382.
1769 Caetano Angola, Feiticeiro Mariana
"Curou vários escravos de feitiços com ervas, raízes, cruzes e palavras". Descobria qual negro fizera o malefício pondo-os todos num quarto, fazia-lhes umas cruzes em cima e os cheirava e dizia que os secos eram inocentes e os que suavam muito eram os feiticeiros. Foi preso pôr ordem do Vigário Geral do Bispado. Em 1762 o Santo Ofício mandou repreendê-lo, assinar termo de emenda e soltá-lo visto ser patente ter sido levado pôr interesse e embustes. Em 1763, assina auto de repreensão: sobre um missal jurou corrigir-se reconhecendo "o quanto tinha vivido errado... e aceitava o grandíssimo benefício da misericórdia".
ANTT, Caderno do Promotor, 125 fl. 274.

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