sexta-feira, 7 de junho de 2013

Introdução

Frisamos neste trabalho contemplar algumas caracteristicas essenciais da feitiçaria - a condição social do praticante, sua ocupação, cor, seu uso (maléfico ou benéfico), a própria prática em si além de estudarmos a feitiçaria enquanto oficio ou seja, pessoas que tiravam seu sustento desta prática. O contexto ou recorte temporal é a população das minas setecentistas - uma sociedade caracteristicamente urbana logo, reservando suas caracteristicas particulares em relação as demais áreas coloniais.

Todos os documentos reunidos nesta dissertação estão ligados, por caminhos diferentes, ao tema das práticas mágicas. 

Durante os três últimos quartéis do século XVIII, feiticeiros, curadores, benzedores e adivinhos foram copiosamente denunciados aos vistadores do bispado e familiares do Santo Ofício que frequentemente percorriam a Capitania das Minas. Ao contrário do senso comum, mágicos foram denunciados, capturados e punidos durante todo o período colonial. 

A região das Minas, devido a sua importância econômica crescente desde o final do século XVII teve desde o princípio o olhar vigilante da Igreja.

É possível encontrar desde as primeiras visitações casos de feitiçaria na região das Minas.

Tratando ainda do contexto social das Minas setecentistas Luciano Figueiredo publicou em 199 seu trabalho Barrocas Famílias onde explora
Apesar das visitações eclesiásticas constituirem o principal corpus documental deste trabalho procuramos buscar em outras instâncias dados que complementem o silêncio destes documentos como

Nossa tese é a de que ao instalar um tribunal eclesiástico a Igreja quebra o conjunto de tensões pré-existentes a sua chegada

A documentação utilizada constituie-se de 31 livros dividindo-se entre livros de denúncia e de formação de culpa possuindo em média 100 fólios cada livro. No total foram coletados X casos de feitiçaria
As omissões de algumas informações hora por parte do denunciante (sendo comum expressões como: Cujo nome não sabe) hora pelo próprio escrivão que não segue o padrão de anotar a ocupação ou cor dos denunciantes e denunciados constituem o principal silêncio de nossa fonte. Cabia ao visitador certa responsabilidade pela qualidade e quantidade de informações recolhidas. Como afirmamos anteriormente houve certos casos em que o visitador age de forma semelhante ao inquisidor interferindo na narrativa do denunciante na tentativa de obter informações mais precisas devido a gravidade da denúncia. Pode-se ter uma idéia da variação de precisão destes documentos a partir destes dois exemplos:

Estas atividades são interpretadas como ilegais na perspectiva da instituição que os perseguia eram, no entanto, do ponto de vista da população mineira, em seus mais diversos segmentos: membros da milícia paga, alfaiates, médicos, fazendeiros, mineradores, faiscadores e escravos práticas extremamente úteis, ou mesmo indispensável para uma vivência mais branda na dura realidade colonial.

Robert Darnton em prefácio de seu livro O Grande Massacre de Gatos alerta para um conhecido problema do historiador, o anacronismo, da seguinte forma: "nada é mais fácil do que deslizar para a confortável suposição de que os europeus pensavam e sentiam, há dois séculos, exatamente como fazemos agora - acrescentando-se as perucas e os sapatos de madeira. Precisamos de ser constantemente alertados contra uma falsa impressão de familiaridade com o passado, de recebermos doses de choque cultural."

Este conselho se faz extremamente válido para o nosso caso pois há um verdadeiro abismo entre o homem contemporâneo e o homem moderno. A credulidade da Idade Moderna, que abria as portas da imaginação para o sobrenatural manifestou-se claramente na violenta perseguição em diversas partes da Europa e da América contra as bruxas 


Desde os contos narrados em torno das lareiras, nas cabanas de camponeses durante os séculos XVI, XVII e XVIII à literatura romântica e contos infantis continuado pelo cinema fantástico contemporâneo, os feiticeiros fazem parte do repertório obrigatório da Idade Moderna tal como gostamos de imaginá-la. Uma Idade Moderna marcada pela caça às bruxas, pactos demoníacos, feiticeiras capazes de malefícios, de provocar a morte e a impotência, por benzedores capazes de curar bicheiras e doenças inexplicáveis. Na colônia essas práticas tornariam-se ainda mais complexas com rituais e procedimentos advindos das mais diversas partes da África e América. Elementos pagãos encontravam-se imersos em uma cultura eminentemente religiosa onde admitia-se a existência e o poder de seres sobrenaturais, geralmente invisíveis, mas muito próximos do dia-a-dia. 

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