sexta-feira, 7 de junho de 2013

Visitações Eclesiásticas

A ação do Bispado de São Sebastião do Rio de Janeiro e  dos Familiares do Santo Ofício no decorrer de todo o século XVIII foram profundamente marcadas pelos princípios estabelecidos pela Reforma Tridentina. Tais princípios orientaram o ordenamento e funcionamento das visitações eclesiásticas na tentativa de impor a ortodoxia católica no sertões da colônia.

Na capitania do ouro, o europeus já manifestavam uma religiosidade já eivada de reminiscências pagãs e heterodoxas em relação ao catolicismo cristão. Desse descompasso com a ortodoxia católica não estavam incólumes nem mesmo sacerdotes e familiares do Santo Ofício que, não raro, envolveram-se com relações de concubinato, geraram filhos bastardos e procuraram nas práticas mágicas soluções para seus problemas. Some-se a este contexto negros provenientes das mais diversas regiões do continente africano que, além da força física, traziam consigo novas doenças, um conhecimento herbário e práticas mágicas distintas do contexto europeu. Além disso, é necessário salientar a "botica do sertão" e

Dessa forma, o comportamento da população mineira distanciava-se das regras estabelecidas pela Igreja, sendo muitos transgressores reincidentes em seus delitos, buscando em práticas heterodoxas o alívio necessário para a faina diária em detrimento da autoridade dos prelados.

Ao examinarmos o montante de denúncias conservadas no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, entre 1721 e 1802, notamos um adensamento de denúncia e punições contra feiticeiros durante o episcopado de ambos.

Este fenômeno indica a postura dos bispos, pois, através de cartas pastorais transmitidas à população por meio da leitura nos púlpitos e de recomendações diretas aos visitadores as denúncias eram estimuladas.

Dom Frei Guadalupe foi nomeado bispo do Rio de Janeiro em 1722 e sagrado como terceiro prelado em 1725, constituindo-se então como clero secular. Aos 53 anos de idade, distante do conforto de uma metrópole aristocrática e monástica, empreendeu sua prelazia baseada nos valores tridentinos realizando pessoalmente uma visita à Capitania das Minas em 1727. Nesta mesma data expediu importante e abrangente carta pastoral remetida  para vários vigários para serem feitas duas cópias, uma a ser fixada na matriz e outra para ser  conservada na documentação paroquial, devendo ser lida publicamente quatro vezes ao ano. Adalgisa Campos destaca que na documentação produzida por D. Frei Antônio de Guadalupe "transparece a sua formação culta, a concepção religiosa elaborada e exigente, através de expectativas reformadas em relação à Cristandade Colonial." CAMPOS, Adalgisa Arantes. A visão barroca de mundo em D. Frei de Guadalupe (1672 – 1740): seu testamento e pastoral. In. Varia História. Belo Horizonte: UFMG, 1999.





"Mando ao Reverendo Pároco e capelães desta freguesia que constando-lhes que algumas pessoas fazem ou concorrem para batuques, o que se chama calundures, ações supersticiosas, os repreendam rigorosamente e, sendo pessoas forras os condenem em dez oitavas de ouro [...] para [que] se abstenham de bailes tão supersticiosos em que o Demônio, como sagaz inimigo de nossas almas, costuma laborar e intrometer-se. Como o demônio não cessa de andar sempre em um continuo giro ao mundo [...] em que caiam as almas e nelas as colha, e neste Bispado tem lançado a perniciosa rede de suas lanças a que chamam Batuques, nas quais redes têm caído muitas almas [...] para que de todo se extingam semelhantes danças, mando, com pena de Excomunhão maior, que nenhuma pessoa de qualquer qualidade, condição e estado faça, admita, ou consinta as ditas danças em suas casas ou fazendas, nem as façam nem delas assistam e além da dita pena lhes imponho demais a pecuniária de dez oitavas de ouro [...] a que o Rev. Pároco executará sob pena de se lhe dar em culpa e para a dita satisfação procederá até evitar aos delinquentes aos ofícios divinos." AEAM, W-3, fls.15-17.


Quanto ao rigor das visitações e o esforço de impor a ortodoxia tridentina na região das minas destacamos o papel de Dom Frei Antonio de Guadalupe, quarto prelado do Bispado Fluminense e Dom Frei  Manuel Ferreira Freire da Cruz, primeiro antístite do Bispado Mineiro.  


A exemplo do prelado fluminense D. Frei Manuel da Cruz, ao longo do período em que foi bispo do Maranhão, realizou, pessoalmente, várias visitas pastorais aos sertões daquela capitania.
(OLIVEIRA, Alcilene Cavalcante de. A ação pastoral dos bispos da diocese de Mariana: mudanças e permanências. 2001. Dissertação (Mestrado), Departamento de História, Universidade de Campinas, Campinas, 2001. p. 48).

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