Nunca seremos plenamente realizados em nada. Estar vivo é ter necessidades e saciá-las a todo instante: sede, fome, gozo, sono, preguiça, angústia, solidão.
O fato é que a ignorância tem suas vantagens.
Ficamos sempre divididos entre Dionísio, deus do vinho, da paixão e da loucura e Apolo, deus da razão.
Quanto mais evoluem as técnicas para retardar o envelhecimento (antioxidantes, cremes antirrugas, óleos essenciais) maior se torna a nossa consciência da nulidade desses processos.
Tambores, música e chamas bruxuleantes iluminam o horizonte colonial e revelam a fragilidade da ordem metropolitana.
A agonia da dor revela a dependência da alma com relação ao corpo. Este último torna-se mais urgente, literalmente visceral, e trágico. A miséria da vida humana invade seu quarto, sua própria cama e instala-se confortavelmente em seu corpo. Talvez em uma noite de insônia, ao lado de uma esposa que dormia tranquilamente e alheia a tudo, ele se confrontava com o silêncio absoluto e os ruídos fisiológicos de seu intestino que anunciavam para sua alma amedrontada a inevitável proximidade da doença e da morte. A relação do homem moderno com a fé, a retidão de seu comportamento e suas obrigações religiosas, nada significam diante da materialidade de sua dor.
Aqui encontra-se o debate entre as instituições visíveis e invisíveis no ordenamento e as vicissitudes da vida.
A estrutura social e religiosa opõe-se contra hábitos e rituais que tornam a vida mais suave.
Os heróis bíblicos, Aquíles, Odisseu, não lhe bastam.
Há algo certo em nossas vidas: a morte. Sem exceção todos morreremos. Não há a opção de não morrer, de continuar vivendo. De certa forma, podemos dizer que há sim um destino determinado. Porém, precisar onde e quando isso vai acontecer é impossível.
A triste verdade é que dinheiro compra sim felicidade. De modo mais banal, compra férias, qualidade de cotidiano, bons médicos, segurança, casas em ruas com árvores, escolas decentes, conversas mais doces, fi lhos mais saudáveis, momentos de sensibilidade sofisticada.
Dinheiro deixa as mães dos seus filhos sorridentes e generosas no sexo. É claro que existem exceções. Como dizem os darwinistas, o fato de que existam algumas poucas mulheres mais altas do que alguns homens não invalida estatisticamente a seguinte generalização: mulheres são mais fracas e menores do que os homens. Portanto, caro leitor e cara leitora, deixe de mentir: quantas vezes você já viu em sua vida que dinheiro comprou sua felicidade e emocionou sua família e seus amigos? Sucesso costumar ter o mesmo efeito.
Mas dirão os hipócritas (esse tipo de praga – os “hipócritas do bem” – que infectou a vida com o pensamento desde o “projeto social para um mundo melhor”), tentando invalidar a infame afirmação de que “dinheiro compra felicidade”: a felicidade que o dinheiro compra é vã. Verdade, devo dizer. Mas qual tipo de felicidade não é? A frase “um homem vale pelo que ele é e não pelo que ele tem” seria menos vã? Como você pode dizer exatamente como um homem é? Qual garantia você tem dessa constância do “ser” de um homem? Não é ele inconstante e muda a toda hora de humor e de intenção? O fato é que todos nós optamos por dizer mentiras construtivas porque elas tornam a vida mais leve como em toda atitude de autoajuda. Dinheiro pode melhorar o “ser” de uma pessoa, assim como falta de dinheiro pode piorá-lo. O contrário é verdadeiro (a falta de dinheiro pode melhorar alguém), mas quem em sã consciência gostaria de testar essa hipótese contra si mesmo?
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