quarta-feira, 17 de julho de 2013

Magia na África


Desde o século XV, quando o tráfico negreiro tornou-se o principal sustentáculo do império ultra-marino português, milhões de africanos foram compulsoriamente transportados para o outro lado do Atlântico. Além de mera força de trabalho, esses indivíduos trouxeram consigo rituais, medos, herbários e magia. De que regiões eles vieram? Quais eram suas práticas? De que forma se desenvolvia sua cosmogonia?  A grosso modo, dentre os negros que desembarcaram nos portos brasileiros, dividiam-se em dois grandes grupos, identificados pelos troncos linguísticos: sudaneses e bantos.Os sudaneses eram os iorubas, os gêges, os minas e os fanti; os bantos eram os angolas, os benguelas, os congos e os moçambiques.



O trabalho escravo foi largamente empregado em todas as atividades econômicas da colônia, com destaque para as plantações de cana, nos séculos XVI e XVII, e para as minas de ouro, no século XVIII. 



É importante ressaltar que não era só na guerra que se corria o risco de ser escravizado. Em várias localidades africanas, a escravidão era a punição para aquele que fosse condenado por assassinato, roubo, feitiçaria e, algumas vezes, adultério. A penhora, o rapto individual, a troca e a compra eram outras maneiras de se tornar escravo. As pessoas podiam ser penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas. Nesta situação, caso seus parentes saldassem o débito, extinguia-se o cativeiro. 

Essa tese é confirmada por Daniela Calainho em Metrópole das Mandingas p. 166. 

A instituição da escravatura era disseminada na África e aceita em todas as regiões exportadoras, e a captura, a compra, o transporte e a venda de escravos eram circunstâncias normais na sociedade africana. A organização social preexistente foi, assim, muito mais responsável do que qualquer força externa para o desenvolvimento do comércio atlântico de escravos. 
THORNTON, John. A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico, 1400-1800. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004.



Para os africanos existia uma separação entre aqueles que praticavam uma magia construtiva e de proteção daqueles que visavam fins destrutivos. No Reino do Congo, por exemplo, os nganga nkisi manipulavam forças incorporadas em objetos mágicos, os nkisi voltavam-se para a proteção e cura de membros da aldeia. "Atribuíam-se as doenças e desgraças aos ndoki (feiticeiros), este últimos podendo ser descobertos pelos naganga ngombo (adivinhos), por vezes com a ajuda de ordálios." p. 657.  VANSINA, J. O Reino do Congo e seus vizinhos. IN: OGOT, Bethwell Allan. História Geral da África, V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010.




Em geral, Os ngangas buscavam a ação benevolente canalizando as forças da natureza para o bem da comunidade e/ou para a cura dos indivíduos, enquanto o ndoki feiticeiro, numa ação mais putativa do que demonstrável, pratica a ação destrutiva . 



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